Lição #1 de 5

Aqui está o que eu descobri sobre Diagnóstico, Planejamento, Protocolos de Tratamento e Saber Escutar a Queixa Principal de Seu Paciente


LIÇÃO #2 de 5


LIÇÃO #3 de 5


LIÇÃO #4 de 5


 

De: Beto Mendes


Frutal: Minas Gerais



Quando aquele jovem de 15 anos entrou no meu consultório e eu olhei para o rosto dele... quase tive um infarto!


Em 2005, quando ainda trabalhava em 7 cidades num único mês, passei por uma experiência extremamente desagradável com um paciente que me era muito querido.


Por razões óbvias, não vou revelar o nome real dele aqui, mas para termos um nome, irei chama-lo de João.


Mas antes de te contar o que tinha acontecido com o João, deixa eu te apresentar QUEM era o João.


João era um garoto de 14 anos e meio quando sua mãe me procurou, por indicação de uma prima que se tratava comigo, para colocar aparelho. A queixa principal era: “...Dr. ele tem os dentes muito abertos na frente...”


João tinha um problema de agenesia de laterais superiores, um dos problemas de maloclusão mais comuns que encontraremos em nossa jornada de ortodontistas, pois, segundo a literatura, as agenesias afetam 20% da população mundial e é responsável por causar problemas de ordem funcional e estética em pacientes jovens.


A mãe não entendia que faltavam dois dentes na boca de seu filho.


A queixa dela era que por ter os dentes abertos o João não tinha coragem de sorrir, era muito introvertido e que precisava corrigir os dentes abertos para se relacionar melhor com as pessoas...


Tudo bem até aqui, uma queixa super válida que justificava a indicação de um tratamento para correção desse problema.


O que eu não tinha tanta certeza naquela época, era como eu faria isso.


Aliás, eu tinha sim, na minha cabeça, o caminho que poderia conduzir o tratamento.... Porém eu estava super equivocado e não sabia.


A maneira que tinha em minha cabeça era:




  1. Fechar os espaços transformando os caninos superiores em laterais;




  2. Reanatomizar os primeiros pré molares superiores;




  3. Acrescento de torque negativo nas raízes destes prés, para tirar o contato das cúspides palatinas destes elementos nos movimentos de lateralidade.




  4. E voilá! Mais um problema resolvido!




Com este protocolo em mente, alinhei, nivelei e comecei o fechamento dos espaços...


Porém... fechei os espaços com retração da bateria anterior!


Esse foi meu GRANDE ERRO!!!


Quando João apareceu na outra manutenção, foi quando quase infartei...


O rosto de um garoto de 15 anos (pois já tinha alguns meses que ele tinha iniciado o tratamento), estava com a aparência de um velho sem dentes!


Ou seja, um perfil totalmente côncavo!


E para piorar, a mãe o acompanhou naquela consulta para reclamar justamente do “estrago” que eu havia feito no rosto do filho dela.


Que antes o filho tinha vergonha apenas de sorrir, mas agora não tinha coragem de mostrar a cara pra ninguém!


Foi um momento muitíssimo constrangedor que passei e que deu muito trabalho para corrigir.


Como o paciente não possuía os laterais, eu consegui corrigir o “estrago” no perfil do garoto abrido novos espaços, vestibularizando e protraindo os centrais e depois de muito trabalho, reabilitando os laterais com prótese.


Preste muita atenção no que vou dizer agora:


Muitos colegas ficam pensando que conhecer protocolos de tratamento é o suficiente para resolver o problema de seus pacientes.


Em outras palavras, acreditam que saber um protocolo é o suficiente para “planejar” um tratamento ortodôntico.


Perceba que eu tinha esse PENSAMENTO DE PROTOCOLO muito forte na minha cabeça nessa época.


Normalmente era assim que “planejava” todos os casos que me apareciam naquela época.


Aliás, eu realmente acreditava que esse protocolo que descrevi um pouco acima, era um “planejamento”.


Confesso que demorei bastante tempo para entender que protocolo de tratamento é muito diferente de planejamento ortodôntico.


Isso simplesmente passou batido por muitos e muitos pacientes. Mas um dia a ficha realmente caiu.


Por isso quero abrir seus olhos. NÃO MISTURE ESSAS DUAS COISAS! Elas são completamente diferentes.


A pergunta que você deve fazer é: Neste paciente, o PROTOCOLO que eu sei, PODE SER USADO?


Quando você começar a responder esta simples pergunta, você estará começando a criar um caminho com planejamento seguro para o seu paciente.


E quando isso acontece, existe uma sensação maravilhosa de:


“ UAU!!! Como isso estava na minha cara o tempo todo e eu não tinha sacado isso???”


Os protocolos de tratamento de agenesia de lateral superior, envolvem basicamente dois caminhos:


1˚ CAMINHO: Fechar os espaços do diastema e transformar os dentes. No caso, transformar canino em lateral com procedimentos cosméticos e pré molares em caninos, que em alguns casos chega a envolver endodontia destes elementos para poder transformar as coroas dos prés em coroas de canino.


2˚ CAMINHO: Abrir mais ainda os diastemas e criar espaços protéticos adequados para a reabilitação dos dentes ausentes.


Classicamente falando, estes são os dois protocolos mais utilizados neste tipo de terapia corretiva.


No caso do João, escolhi o primeiro caminho, simplesmente por achar que reabilitar envolveria mais custos pro paciente e que provavelmente a mãe dele não iria escolher esta segunda opção.


Quero deixar claro que NÃO OFERECI uma segunda opção de escolha para o paciente.


Simplesmente ESCOLHI o primeiro caso e pronto! Era isso que eu iria fazer.


Nessa época eu não usava NENHUM dos recursos e principalmente PROCESSOS de DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO que uso hoje.


E muito provavelmente, dezenas, ou mesmo centenas, para não dizer milhares de colegas que trabalham com ortodontia, também não usam um processo validado nessa etapa tão importante para o tratamento de nossos pacientes.


O ponto cego dessa história foi exatamente a negligencia de não se fazer um diagnóstico e planejamento correto.


O perfil do paciente não me autorizava fechar os espaços com retrações.


Hoje eu sei que poderia até mesmo usar o 1˚ CAMINHO descrito aqui acima, mas para fechar os espaços deveria mesializar os caninos e não retrair os centrais.


O espaço fecha do mesmo jeito, mas a face fica completamente diferente.


E é isso que o diagnóstico e planejamento detalhados me contam quando sigo os processos que quero apresentar nessa série de 5 Lições para você.


Mas isso é assunto para uma próxima lição.


Na próxima lição, vou te ajudar a identificar o que é mais importante definir primeiro: o Diagnóstico ou o Planejamento?


Mas gostaria que já fosse pensando e deixasse sua resposta aqui abaixo.


O que você acha mais importante fazer primeiro, criar um planejamento ou realizar o diagnóstico de seu paciente?


E como você faz isso hoje?


Vamos fazer um breve resumo da lição de hoje:


#01 – Conhecer protocolos de tratamento não vai garantir sucesso em seus tratamentos


#02 – Sempre pergunte se o protocolo que você conhece pode ser usado naquele caso específico.


#03 – Aprenda a escutar a queixa principal de seus pacientes e concentre-se em resolver essa queixa como prioridade. Nunca perca o foco do real motivo do seu paciente ter ido te procurar. Quando me preocupei em resolver uma maloclusão ao invés de realmente resolver o problema pelo qual a mãe tinha me procurado, quase perdi o paciente.


#04 – Sempre existirá mais de uma forma para se fazer a mesma coisa. Tente pensar em pelo menos duas formas diferentes de fazer a mesma coisa e certifique-se se uma maneira não trará resultados diferente da outra, apesar de aparentemente serem iguais. Eu posso fechar um espaço retraindo uma bateria anterior ou mesializando uma bateria posterior. Qual trará melhor resultado para o meu caso específico?


Gostou dessa lição? Então deixe seu comentário e participe de nossa conversa aqui abaixo.


Nos vemos na próxima lição


 

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