Lição #3 de 5
Planejando os MACRO PROBLEMAS Antes do Diagnóstico
LIÇÃO #1 de 5
LIÇÃO #2 de 5
LIÇÃO #4 de 5
De: Beto Mendes
Frutal: Minas Gerais
"Quem planeja com cuidado tem fartura, mas o apressado acaba passando necessidade." Provérbios 21:5
Assim que terminei meu primeiro curso de ortodontia, que foi um curso de aperfeiçoamento de 3 anos, no IMEO - Instituto Mineiro de Estudos Odontológicos, Uberaba-MG, com meu grande Mentor Prof Dr Mustaphá Amad Neto, tinha muitas dúvidas em relação à ortodontia ainda, mas uma coisa eu tinha aprendido bem:
"... Comece seus tratamentos sempre analisando como é a relação transversal de seu paciente! Se existir algum problema aí, trate este problema primeiro! ".
E isso já era um grande NORTE para onde eu caminhava com meus pacientes.
Foi então, que conversando com um amigo de infância que tinha acabado de ser chamado para ocupar um cargo de engenheiro da Petrobrás, numa plataforma no Rio de Janeiro, que identifiquei um equívoco profissional.
Este amigo usava aparelho há mais ou menos 3 anos, com outro profissional.
Como ele ira se mudar de Frutal - MG para o Rio de Janeiro, ele veio me perguntar se eu poderia opinar no tratamento ortodôntico dele, dando uma "previsão" de quanto tempo eu achava que o tratamento dele ainda iria durar.
Tendo em vista que eu "entendia" de ortodontia, pois tinha acabado um curso recentemente, resolvi olhar como estava a oclusão do meu amigo.
Quando olhei sua oclusão, a primeira coisa que tinha treinado para olhar era o transversal.
E ele estava com uma MORDIDA CRUZADA.
Fiquei muito sem graça de dar a notícia, pois conhecia o ortodontista dele e percebi, de cara, que algo não estava andando de acordo com um protocolo padrão: "... CORRIJA SEMPRE O TRANSVERSAL PRIMEIRO..."
Meu amigo já estava de aparelho há um pouco mais de 3 anos, em muitos casos, tempo suficiente para inclusive terminar um tratamento... mas ele ainda tinha uma mordida cruzada!!!
Lembro que foi uma situação chata, pois o colega que o atendia também era nosso amigo ( meu e dele ), era mais velho que nós e tinha até uma boa fama na cidade.
Mas na minha cabeça aquilo não podia estar certo.
Falei que ficava difícil dar um palpite sem olhar radiografias, pois teria que ver paralelismo de raizes ou qualquer coisa assim.
Sei que falei sem firmeza e acabei ficando com uma fama de que eu "entendia pouco" de ortodontia.
Lembro que fiquei calado para não falar mal do outro colega, mas a notícia que tive é que depois de 5 anos de tratamento, meu amigo ainda estava de aparelho e ainda tinha uma mordida cruzada...
Depois disso acabei perdendo o contato com meu amigo engenheiro e não sei dizer como acabou essa história.
Mas de uma coisa eu sei muito bem hoje: Eu sempre começo desenhando meus planejamentos pelo TRANSVERSAL do meu paciente!
Quando você expande ou diagrama o arco do paciente no tamanho ideal para aquele paciente, você define:
#1 - De forma muito mais precisa a relação de Classe do paciente;
#2 - O limite de ganho de espaço máximo que essa expansão pode oferecer no perímetro desse arco, para só depois ver se precisará utilizar as outras 4 formas de obtenção de espaço (distalizando os posteriores, protruindo e/ou vestibularizando os anteriores, fazendo slice e extraindo dentes);
#3 - Ancorar precocemente os molares na posição que eles já deverão ficar definitivamente.
Além disso, o Plano Transversal é o Plano que mais altera a posição da Mandíbula nos outros dois Planos.
Em resumo, o Plano Transversal ALTERA os Planos Vertical e Sagital.
Em outras palavras, você tem condições de realizar um tratamento mais rápido quando começa por aqui.
Em segundo lugar, olho para o PROBLEMA VERTICAL DO PACIENTE.
E aqui temos 3 situações:
#1 - O paciente tem Mordida Profunda;
#2 - O paciente tem Mordida Normal;
#3 - O paciente tem Mordida Aberta.
Para a situação #1, quando o paciente tem uma Mordida Profunda, devo corrigir esta mordida antes de corrigir a Classe.
E a melhor explicação para isso é você imaginar um paciente de Classe II com mordida profunda.
Se você tentar corrigir a Classe II distalizando o arco superior, você corre um grande risco de "empurrar" essa mandíbula para trás.
Pois na mordida profunda os incisivos inferiores entram em contato precoce com a face palatina dos superiores.
Esse contato empurrará a mandíbula para trás, no momento em que distalizar os dentes anteriores da maxila, retroposicionando essa mandíbula e prejudicando a relação cêntrica da ATM.
Isso quando você está corrigindo a Classe II num paciente com mordida profunda, por isso, corrigir a Mordida Profunda ANTES de corrigir a Classe do paciente, é a melhor estratégia de tratamento.
Na situação #2, se o paciente tem uma Mordida Normal no plano vertical, você não tem o que fazer neste plano, a não ser diagramar este arco.
Então já passa para o próximo plano que é o antero-posterior ou sagital.
E quando o paciente está na situação #3, ou Mordida Aberta, você deixa a correção dessa Mordida Aberta por último. Vai corrigir a Classe do paciente primeiro.
E o porquê disso é simples...
Quando você se preocupa em corrigir a bateria posterior primeiro, seja transversal ou classe, você terá melhores condições de, com uma última mecânica, corrigir a guia do paciente e finalizar o tratamento.
Agora, se você se preocupar em corrigir a guia incisal primeiro, na hora que for corrigir caninos e molares, você corre o risco de perder a guia incisal e ter que refazer o trabalho de recuperar a guia mais de uma vez.
Além de ficar fazendo um movimento de vai e vem nos dentes e aumentando as chances de reabsorção.
Por isso, deixe sempre a Mordida Aberta para o final.
Assim você fará apenas uma mecânica com a bateria posterior já bem posicionada.
Com essa explicação você já entendeu que o PROBLEMA SAGITAL dependerá do PROBLEMA VERTICAL do Paciente:
#1 Se o paciente tem Mordida Profunda, corrigir essa Mordida Profunda primeiro e DEPOIS O SAGITAL;
#2 Se o paciente tem Mordida Aberta, corrigir essa Mordida Aberta SÓ DEPOIS QUE CORRIGIU O SAGITAL.
E assim você desenha o planejamento dos GRANDES PROBLEMAS do seu paciente.
Agora preste muita ATENÇÃO no que vou falar:
Enquanto resolve os GRANDES PROBLEMAS, você vai encaixando e resolvendo problemas "menores" no decorrer da condução da terapia.
E estes problemas "menores" você os identificará quando estiver na fase do DIAGNÓSTICO.
Mas isso eu vou te explicar melhor na próxima lição...
O que quero que faça agora são duas coisas:
PRIMEIRO - releia, com bastante calma, esta lição, para realmente ficar claro o momento certo, a sequência certa que deve construir na terapia de seu paciente.
SEGUNDO - comente aqui abaixo o que está achando desta série, deste formato de compartilhar conhecimento relevante para prática ortodôntica. O seu feedback é muito importante para eu saber se continuo ou não com este formato, ok?
Grande abraço e Sucesso, Sempre!