Colagem Direta De Aparelho Ortodôntico E Acessórios

Não acredito que exista a “parte mais importante” do tratamento, por isso devemos ter total atenção a todo o processo: da colagem, passando pelas mecânicas escolhidas, até o momento de controle da contenção. Sendo assim, vou dar o meu conhecimento e minha visão de como penso em relação a instalação do aparelho fixo nas arcadas do meu paciente.

colagem direta

ESCOLHENDO A RESINA

Em primeiro lugar, você deve saber de duas coisas: existe a resina ortodôntica e a resina restauradora. A resina ortodôntica foi desenvolvida para colar peças e acessórios ao esmalte do dente. Porém foi feita para, em um determinado momento, ser removida de lá. Por conta disso, geralmente são resinas que tentam “proteger” esse esmalte, portanto têm uma adesividade menor que a resina restauradora e pode conter flúor em sua formulação. Quando um acessório se descola, seria muito melhor para o esmalte que a resina fosse descolada da peça, e que essa mesma resina ficasse colada ao dente. Isso significa que não ocorreu nenhuma injúria ao esmalte, afinal, a resina “quebrou” na interface resina/peça e não na interface resina/esmalte.

Tente fazer essa visualização sanduíche: esmalte / resina  / peça – Caso  tenha resina colada no esmalte e nenhuma resina colada na peça que soltou, então isso vai ser favorável para o esmalte do seu paciente. Apenas use uma broca de polimento de resina para remover a resina do esmalte e proceda nova colagem. Agora, caso tenha parte da resina colada na peça solta, e parte também no esmalte, significa que houve quebra e injúria no esmalte. Isso não é o fim do mundo, mas como ortodontista você deve saber que isso não é benéfico para esse esmalte. Proceda da mesma maneira, porém com consciência do que aconteceu.

fotos de acessórios ortodônticos com resina quebrada em sua base

Agora imagine os casos onde as peças soltas têm 100% de resina na peça e nenhuma resina no esmalte. Isso pode significar que houve alguma contaminação na hora da colagem (principalmente de sangue) que impediu a adesão química dos elementos envolvidos e adesão mecânica ( dos túbulos que deveriam ser preenchidos com adesivo após o ataque ácido). Então o procedimento será repetir o procedimento. Recomendo que sempre faça um novo polimento na superfície do esmalte antes de iniciar a nova colagem.

Em casos que há recorrentes quebras/solturas  de peças no mesmo local, verifique, em primeiro lugar, a oclusão. O paciente morde em cima da peça? Caso ocorra isso, faça um levante de mordida. Além disso, nestes casos não tenho dúvida, recolo a nova peça com resina restauradora, e não ortodôntica. Mesmo sabendo que posso causar injúrias no esmalte do paciente quando for remover aquela peça, pois ao colocar na balança, o prejuízo em não evoluir o tratamento devido a quebra constante é maior que a injúria que o esmalte sofrerá. Lembrando que a resina restauradora foi desenvolvida para colar e “nunca mais sair dali”.

OUTRAS SUPERFÍCIES

Você terá muitos pacientes, inclusive pacientes que usam próteses fixas de resina, de porcelana e até de metal. Agora que começa a ficar complicado. Digo isso apenas por um motivo: peças coladas em superfícies que não são esmalte, sempre descolarão desta superfície. Mais uma vez, isso não é o fim do mundo. Apesar de ser uma “pedra no caminho”.  A primeira providencia que deve tomar é saber o que fazer diante de cada material.

Dentes De Resina:

Para dentes de resina, pergunte se esse dente é um provisório, se não for, diga ao seu paciente da dificuldade de adesão em materiais que não são o esmalte do dente, e que para ter sucesso no tratamento, talvez terá que sacrificar aquela prótese. Então, com uma broca esférica bem pequena, no local do “X” onde colará sua peça, faça um pequeno “furo” retentivo no dente de resina. Muitas vezes faço uma depressão em forma de cruz e faço retenções nessa cruz com essa broquinha esférica. Então com uma resina acrílica quimicamente ativada (pó e líquido), pincelo a resina na cruz e na peça que irá ser colada, posiciono e espero a polimerização acontecer. Não fica bonito, mas é  a melhor forma de reter essa peça ao dente. Avise ao paciente que após o término do tratamento ele deverá refazer esse dente. Faça  o paciente assinar um termo que concorda com esse procedimento. Mesmo assim, espere pelas quebras, elas ocorrerão!

Dentes De Porcelana:

Em dentes de porcelana, faça a mesma explicação para seu paciente em relação a dificuldade de adesão. Feito isso, o condicionamento em dentes de porcelana NÃO é feito com o Ácido Fosfórico 37% (ácido mais utilizado atualmente para condicionamento do esmalte), mas SIM o Ácido Fluorídrico a 10%. Proceda da seguinte maneira:

De 30 a 60 segundos de  condicionamento e depois no MÍNIMO o mesmo tempo de enxague com água. Porém, agora, no lugar do ADESIVO que você usaria no esmalte, vai usar um agente de união SILANO para porcelana. Então cole o acessório e fotopolimerize. Neste método de colagem tome cuidado com a quantidade de ácido que irá espalhar na superfície da porcelana, pois ela fica esbranquiçada e não volta a cor depois. E mesmo assim, as peças soltam!!!

Dentes De Metal:

tubo soldado e colado Aqui não tem como colar nada. Por isso o melhor a fazer é confeccionar uma banda e soldar o acessório, seja tubo, bráquete, botão, gancho ou o que for nesta banda. Já a solda é MUITO mais resistente que a colagem direta, porém tem suas desvantagens: o cimento que cola a banda no dente pode se dissolver e entra alimento e proliferação de placa bacteriana por baixo da banda dando  cárie, mal cheiro, tártaro…

CONCLUSÃO

Saber escolher os melhores materiais para se usar na colagem direta de acessórios ortodônticos é básico na sua carreira. E ter certeza de suas eficiências e eficácias também o é. Por isso não se deixe abalar quando seu paciente começar a retornar  com peças soltas ou quebradas. Isso fará parte de seu dia a dia de consultório. Prepare-se com armas do conhecimento, com uma boa dose de paciência, e boa sorte, pois seu futuro é extremamente promissor.

acima de tudo

 

 

 

6 Comentários


  1. Parabéns pela iniciativa e pelo site prof. Beto Mendes. Estou sempre lendo
    o que você esta postando e aproveitando muito essas informações, grande abraço!

    Responder

    1. Obrigado Paulo, espero realmente contribuir com seu crescimento profissional, estou preparando muita coisa boa ainda para vocês.

      Responder

  2. Fico impressionada com seu desprendimento e prazer em ensinar. Obrigada e felicidades!

    Responder

    1. Oi Alda, obrigado pelos comentários. Fico muito feliz em pensar que minha mensagem pode ajudar muitas pessoas. Abraço do Beto Mendes.

      Responder

  3. muito boa as explicações, estou acompanhando ., Vc nos faz crescer como ortodontistas. obrigado.

    Responder

    1. Oi Humberto, obrigado pelo comentário meu caro. Fico muito feliz por poder ajudar, deixar uma marquinha que seja. Conte comigo. Abraço do Beto Mendes.

      Responder

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.