A ferramenta mais otimizada para implementar velocidade aos seus tratamentos será, sem dúvidas, o seu conhecimento sobre biomecânica em ortodontia.
O intuito deste artigo é ensinar 3 maneiras práticas de utilizar este conhecimento para acelerar os seus tratamentos ortodônticos
3 Maneiras de acelerar o tratamento através da biomecânica em ortodontia
O clássico conceito de biomecânica em ortodontia ainda assusta muitos colegas que se aventuram em orquestrar um tratamento ortodôntico.
E quanto mais moderna a ortodontia se apresenta, mais importante também se torna o domínio neste conceito fundamental da mesma.
Saber biomecânica permitirá ao ortodontista, analisar qualquer tipo de técnica como também servirá de base para criar suas próprias mecânicas.
O problema é que o conteúdo “biomecânica em ortodontia” é bastante extenso. E para dominá-lo precisará de tempo.
Recomendo profundamente que organize seu tempo para aprender este conteúdo, pois isso fará grande diferença no seu trabalho.
Mas para te dar um atalho, vou mostrar 3 maneiras que uso a biomecânica para potencializar os meus resultados.
Veja agora 3 maneiras que poderá utilizar a biomecânica para planejar e executar, com velocidade e otimização, seus tratamentos:
- Biomecânica relacionada à colagem dos brackets;
- Biomecânica relacionada ao controle total de movimentos em molares isolados;
- Biomecânica relacionada à expansão/disjunção de um arco maxilar atrésico
Biomecânica relacionada à colagem dos brackets
A forma como você cola os brackets em seus pacientes pode ajudar ou atrapalhar sua mecânica.
Por isso, é fundamental analisar que mecânica pretende usar no paciente antes de iniciar a colagem dos brackets.
E antes de pensar na colagem, você deve ficar presente para o efeito do ângulo e do torque que o bracket terá no dente específico.
Efeito do Ângulo
O ângulo, ou movimento mesio-distal, que o dente sofrerá durante o alinhamento e nivelamento, acontecerá totalmente, quando chegar no fio redondo mais calibroso.
É importante entender que conseguimos expressar 100% do ângulo quando chegamos no último fio redondo.
Efeito do Torque
Já o torque, ou movimento vestíbulo-lingual, acontecerá, na sua máxima expressão, quando chegar no fio retangular mais calibroso.
Porém, NUNCA conseguiremos expressar 100% do torque quando chegamos no último fio retangular.
Num slot 22, por exemplo, um fio 19×25 ficará com uma folga de 10˚ entre o fio e o slot.
E existirá sempre uma folga entre o fio mais calibroso (21×25) e o slot do bracket que estiver usando, em relação ao movimento de torque!
Voltando à colagem…
Um dos dentes que mais atrapalha a mecânica ortodôntica, devido ao ângulo que ele expressa, é o canino.
Os brackets de arco reto têm um ângulo distal da raiz de caninos, e cada prescrição tem um ângulo específico.
Mas no geral, todos irão inclinar o canino posicionando este dente com raíz para distal e coroa para mesial
O que devemos pensar é…
Quem foi para onde? A raíz que foi para distal ou a coroa que foi para mesial?
E normalmente, se você não ancorar esta coroa, o que acontecerá é que a coroa que irá para mesial
Com a coroa do canino indo para mesial, este movimento acabará interferindo na parte anterior e posterior do arco.
Na parte anterior, causará um efeito de vestibularização dos incisivos enquanto a parte posterior angulará mesialmente.
Então se o paciente não tinha um overjet, o simples fato de alinhar e nivelar os dentes em qualquer prescrição de arco reto, causará vestibularização dos incisivos e aparecerá este overjet.
Entendendo este efeito da biomecânica em ortodontia, você deve se perguntar:
Este movimento é favorável à mecânica que pretendo para este paciente?
Caso necessite criar um overjet, é só colar normalmente e passar os fios que o overjet acontecerá.
Agora, se este movimento for indesejado, o melhor a fazer é colar um bracket de edgewise, cujo ângulo é zero nestes brackets.
Com esta estratégia, você evitará movimentos excessivos nesta bateria anterior( nos incisivos mais especificamente).
Pois se não precisa vestibularizar os dentes incisivos e este movimento acontece, depois terá que lingualiza-los novamente.
Isso aumentará tanto o risco de reabsorção como o tempo de tratamento corrigindo um overjet indesejado.
Biomecânica relacionada ao controle total de movimentos em molares isolados
Outra confusão comum na biomecânica em ortodontia é a diferenciação do Centro de Resistência (C.R) com o Centro de Rotação (C.Rot).
E entender cada um destes conceitos, é fundamental para se transformar num mestre do movimento ortodôntico!
Então vamos aos conceitos…
Centro de Resistência (C.R)
De uma forma bem simplificada, o Centro de Resistência é um ponto no qual quando recebe uma força (em cima deste ponto), o dente andará de corpo…
ou fará o que chamamos de movimento de translação.
Em outras palavras, o dente “andará” sem se inclinar para lado algum!
Para localizar o Centro de Resistência:
˚Em dentes UNIRRADICULARES:
O Centro de Resistência se localiza no longo eixo do dente, entre o terço oclusal e médio da raiz.
˚Em dentes MULTIRRADICULARES:
O Centro de Resistência se localiza entre as raízes, de 1 a 2 mm apicalmente à furca.
Perceba então, que o Centro de Resistência não é em qualquer lugar, ELE SEMPRE SERÁ NUM LUGAR ESPECÍFICO!!!
Centro de Rotação (C.Rot)
Já o Centro de Rotação é um ponto, ao redor do qual, o dente vai rodar.
E este Centro de Rotação PODE SER CRIADO EM QUALQUER LUGAR QUE DESEJAR!!!
Para isto, deverá aprender como criar um Centro de Rotação para dominar os movimentos idealizados por você.
E a regra para definir onde quer o Centro de Rotação é a seguinte:
Para criar um Centro de Rotação (C.Rot), aplique uma força diametralmente oposta ao local que quer que seja este Centro de Rotação (C.Rot), passando pelo Centro de Resistência (C.R).
Para entender melhor, acompanhe o exemplo abaixo:
Imagine uma segundo molar que mesio-angulou pela falta do primeiro molar.
Vamos supor que você queira mesializar e verticalizar este molar em sua mecânica.
Você pode usar os princípios de biomecânica em ortodontia e fazer este movimento com total controle.
Quero dizer que poderá optar mesializar com intrusão ou com extrusão, você quem escolhe!
Mas como fazer isso? Vamos lá!
Criando um Centro de Rotação na Prática
A primeira providencia é saber onde se localiza o Centro de Resistência do Molar.
Como em qualquer dente multirradicular, o Centro de Resistência estará entre as raízes, de 1 a 2 mm apicalmente à furca.
E para mesializar e verticalizar, intruindo o dente, você deverá decidir qual é o melhor Centro de Rotação.
Este Centro de Rotação é um ponto que você criará, no qual o dente rodará em volta.
Representaremos este Centro de Rotação por um ponto laranja.
Após verticalizar trazendo as raízes para frente e intruindo a parte distal da coroa, agora você tem que acabar de fechar o espaço entre o Molar e o Segundo Pré.
Neste momento, o que você deseja é um movimento de translação do Molar, ou seja, movimento de corpo.
Agora, com o Molar na posição planejada, você avalia o que falta…
Geralmente o que falta é corrigir a intercuspidação com os antagonistas…
E intruir o Segundo Molar superior que provavelmente estava extruído pela falta de contato causada pela mésio-angulação do Segundo Molar Inferior…
E pronto, você tem um paciente preparado para a reabilitação com o implante!
Agora vamos entender o raciocínio por trás deste planejamento.
O RACIOCÍNIO DO PLANEJAMENTO
Inicialmente, devemos avaliar se vamos querer movimentar o molar com ou sem intrusão, ou seja, qual controle queremos ter.
E para saber se vamos precisar intruir ou extruir, devemos avaliar o Plano Oclusal.
Observe que a parte distal da coroa está acima do Plano Oclusal.
Você precisará, durante a verticalização, intruir esta parte do dente.
E para fazer isso, se escolher o C.Rot próximo à crista marginal mesial do molar, o dente rodará em torno deste ponto e acontecerá a intrusão da parte que definimos ser necessária.
Para colocar o Centro de Rotação nesta posição, a primeira coisa é definir o Centro de Resistência do molar.
Após definida a posição do Centro de Rotação e achado o Centro de Resistência…
Deve agora validar este Centro de Rotação aplicando a Força no local exato.
E para isso, voltamos ao conceito:
Para criar um Centro de Rotação (C.Rot), aplique uma força diametralmente oposta ao local que quer que seja este Centro de Rotação (C.Rot), passando pelo Centro de Resistência (C.R).
Pronto, o Ponto de Aplicação da Força (P.A.F.) definiu o Centro de Rotação.
Mas e agora? Como vou aplicar uma Força fora do dente para validar este Centro de Rotação?
Entra agora um novo conceito da biomecânica, a Linha de Ação da Força.
LINHA DE AÇÃO DA FORÇA
Esta Linha de Ação da Força, ou Linha de Força é o que permitirá criar o movimento exato.
Como você quer levar as raízes do molar para mesial, deverá criar uma força para mesializar o dente.
Porém, ao invés de simplesmente passar um fio e usar uma corrente de alastic na região dos tubos e brackets…
E com isso ter um movimento que pioraria a inclinação, você opta por fazer uso de seu conhecimento de biomecânica.
A idéia é usar uma força que passe em cima do Ponto de Aplicação da Força (P.A.F)…
…para criar o Centro de Rotação adequado ao movimento desejado.
Então esta Força deverá ser aplicada em cima desta Linha de Ação da Força (L.A.F).
QUE ACESSÓRIOS USAR PARA APLICAR A FORÇA EM CIMA DA LINHA DE AÇÃO DA FORÇA?
E para isso você pode usar um Mini Implante Ortodôntico (MPO).
Porém, com o cuidado de posicionar este MPO também em cima da Linha de Ação da Força.
Agora deve ligar o dente ao Ponto de Aplicação da Força (P.A.F.).
Para isso, você usará um tubo colado ou soldado no molar…
… e um fio retangular que ligará o tubo até o Ponto de Aplicação da Força (P.A.F.).
Então aplica-se uma força com uma mola de niti, que passa em cima da Linha de Ação da Força.
Ligando o fio retangular, que está ligado ao tubo, até a cabeça do parafuso (MPO).
Fique do olho no comprimento deste braço de força que liga o tubo à mola, pois o ideal é que ele sempre passe em cima da Linha de Ação da Força.
Outro fato importante, é que normalmente, quando o dente estiver mais verticalizado, é comum a Linha de Ação da Força coincidir com o Centro de Resistência do dente…
E quando isso acontecer, você já sabe que o movimento passa a ser de translação e o dente acaba fechando o espaço de corpo.
Concluído esta etapa, é só corrigir os contatos oclusais da bateria posterior…
E você tem uma boca pronta para a reabilitação com implante.
Agora leia outra vez e veja se entende melhor…
Para criar um Centro de Rotação (C.Rot), aplique uma força diametralmente oposta ao local que quer que seja este Centro de Rotação (C.Rot), passando pelo Centro de Resistência (C.R).
Biomecânica relacionada à expansão/disjunção de um arco maxilar atrésico
E a terceira dica que quero te dar neste artigo, é o uso da biomecânica nas correções transversais…
Mas antes, vamos falar um pouquinho mais de conceitos básicos de biomecânica em ortodontia.
CONCEITO BÁSICO: FORÇA
Para definir o que é FORÇA, podemos dizer que é a AÇÃO de um corpo SOBRE outro corpo.
Por exemplo, a AÇÃO do FIO ORTODÔNTICO sobre o DENTE, gera uma FORÇA.
Matematicamente, é o produto da MASSA e da ACELERAÇÃO:
F = M x a
E é representada, graficamente, por setas, ou melhor, VETORES, por ser uma GRANDEZA VETORIAL, pois possui MAGNITUDE e DIREÇÃO.
A UNIDADE de MEDIDA da FORÇA, pode ser de acordo com o seu PESO ( onças ) ou a sua MASSA ( gramas).
Para aprender a “ler” um VETOR DE FORÇA, veja o desenho abaixo:
Agora que você tem claro em sua mente os conceitos Centro de Resistência e Linha de Ação, fico mais à vontade para explicar como a Biomecânica pode te ajudar nos casos de expansão/disjunção.
Biomecânica em ortodontia e a Disjunção
Imagine uma maxila atrésica com a necessidade de fazer uma disjunção sem inclinar muito os dentes de suporte para vestibular.
Neste caso, ao orientar seu laboratório de prótese na confecção do disjuntor, deverá se atentar ao seguinte fato:
O parafuso disjuntor deve ser posicionado mais próximo do palato para tentar ficar na altura do Centro de Resistência.
A intenção de confeccioná-lo assim, é tentar fazer com que a Linha de Ação da força passe exatamente sobre os Centros de Resistências dos Molares.
Ao conseguir este posicionamento, o resultado será um movimento de corpo (translação) dos molares na disjunção do arco.
Biomecânica em ortodontia e a Expansão
Agora imagine uma arcada maxilar atrésica, porém com necessidade de expansão, ou seja, você quer inclinar os molares para vestibular.
Neste caso, a recomendação é que o parafuso disjuntor, esteja posicionado o mais oclusal possível para ficar abaixo do Centro de Resistência.
Desta maneira, a Linha de Ação da força passa muito abaixo dos Centros de Resistência dos Molares
Criando desta forma, um Momento de força que causará a expansão desejada inclinando os Molares para vestibular.
CONCLUSÃO
Conhecer conceitos de biomecânica em ortodontia, está diretamente relacionado ao controle de sua mecânica, à previsibilidade dos movimentos.
E quanto mais previsível o tratamento se torna, menos movimentos indesejados que precisarão de correção surgirão neste tratamento.
Quanto menos correções você precisar fazer, mais rápido terminará o tratamento de seus pacientes.
E isso tem toda relação com eficiência, eficácia, reconhecimento dos pacientes, respeito dos colegas e consequentemente…
Satisfação profissional e financeira para você!!!
Espero realmente que tenha aberto seu coração e mente para a necessidade de se tornar excelente em biomecânica.
Você só tem a ganhar com isso!
E agora você pode aprofundar mais seus conhecimentos em biomecânica.
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Se você está sério na sua busca da excelência e tem o desejo de se tornar um profissional que vale mais por entregar melhores resultados, conheça o nosso Portal de Assinaturas.
Não deixe de comentar e fazer suas perguntas nos comentários. O meu intuito é poder ajudar cada dia mais.
Grande abraço do Beto Mendes e sucesso, sempre!
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Espetacular!!! Muito obrigada por compartilhar conosco!
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Parabéns Dr. Mendes
Em tempos em que assistimos a cooptação de professores pela indústria,
numa relação em que os outrora Mestres assumem o papel de vendedores de
aparelhos; sua iniciativa resgata a boa formação, nesse caso sobre os princípios
de biomecânica, aplicados a qualquer técnica. Trata-se do ensinar a pensar em
detrimento da pura e simples repetição.
Atenciosamente
Alcion Alves Silva
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Dr, o senhor realmente entendeu o espírito dessa iniciativa. Obrigado por seu comentário. Abraço do Beto Mendes